Uma visão pessoal
Estava eu para começar a escrever sobre um outro assunto que
me anda na cabeça, quando soube da morte de Fidel Castro. E fiquei parado, um
pouco apreensivo com o momento, a pensar no povo cubano que tanto deve, para
bem e para mal, a este homem.
Já li que os meios de comunicação social estão a exagerar
nos elogios a Fidel. Eu não me pronuncio sobre isso, não tenho tempo nem vontade
de estar indefinidamente a ouvir os outros para depois dizer a minha opinião.
Mas tenho na memória todos estes anos em que se falava de Cuba, sempre a olhar
para aquela ilha como um caso particular, um povo que há muitos anos passa por
uma experiência política, económica e social diferente de todos os outros.
Nunca fui a Cuba e nunca me apeteceu ir a Cuba. Não é só por
não partilhar a ideologia de El Comandante, demasiado agarrado às expressões
colectivizantes do comunismo; também me incomodava o que ouvi contar a muitos,
que a fazer turismo na ilha eram servidos por gente de cara sofredora e mal
paga, não obstante os estudos que muitos deles tinham. Também me doía saber que
havia espaços que estavam vedados aos cubanos, como era triste ver as crianças
e os jovens a pedir tudo, mesmo as coisas mais insignificantes (um lápis, uma
esferográfica, uma pasta de dentes, uma partitura de música…), aos turistas que
passavam.
Agora, a história dirá de sua justiça; mas Cuba continua a
ser um ponto de contradição, em que são os próprios cubanos em luta uns com os
outros. Criaram-se muitos embargos e embaraços a Cuba por causa da revolução,
impossibilitada assim de seguir um rumo mais facilitado, dada a falta de apoio
para o desenvolvimento de projectos desejados pela própria lógica dos
vencedores. Por isso, é da ilha de Cuba que muitos saem à procura de vida
melhor. Mas há outros que são obrigados a fugir, e não são poucos, porque a
ideologia comunista não democrática opta por perseguir os adversários,
dando-lhes como destino a morte ou a prisão.
É difícil encontrar um país com tantos nacionais a viver
fora da pátria. São os célebres cubanos de Miami, aos milhares, que cantam a
morte de Fidel pelas ruas (que tristeza!...), são os milhares de médicos que
vieram para Angola ou para a Venezuela (também chegaram a Portugal…) e que
alimentam com parte do seu salário o sistema de saúde nacional. São os
perseguidos políticos que vão tendo saudades de Cuba, mas não podem entrar em
liberdade no seu país.
Fala-se dos progressos generalizados da educação e da saúde
para todos naquele país… Eu posso acreditar. Mas quando o “pensamento único”
agrilhoa a liberdade individual parece que falta o ar para respirar. Não é que
eu defenda a invasão de Cuba por povos estrangeiros para repor a democracia.
Sempre achei que os povos devem caminhar mais pelo seu pé, ao seu ritmo, sem
grandes quimeras vindas de estranhos, para não acontecer o que temos visto por
aí, com primaveras a ruir e a cavar a morte, a destruição total dos países e o
mais negro inverno a dominar as pessoas.
Mas era bom que este lindo e alegre país iniciasse agora,
sem o espectro de Fidel, uma caminhada para uma vida mais democrática e para um
desenvolvimento que melhorasse a vida dos cubanos, para que as riquezas
culturais desta ilha se possam manifestar sem grilhetas ao mundo.
Títulos e foto do
jornal cubano “Granma”
«El mundo dice adiós a un gigante de la historia» - «Un
revolucionario de talla mundial»
«Toda Cuba con Fidel»