sexta-feira, 23 de dezembro de 2016

O SENTIDO DO NATAL

As minhas palavras...

Que vou eu dizer sobre o Natal, quando toda a gente já disse tudo? Confesso que não sei vir para aqui dizer novidades, mas quero manifestar um pouco a minha perspectiva, dizendo o que me vai na cabeça e na vida.
Começo por salientar que a vida humana, feita de rotinas, merece, de vez em quando, uma alteração de práticas para refrescar as mentes, motivar a vida com valores vinculativos, conscientizar a população para uma afinação de ideais.
E o Natal é talvez o momento mais forte para colocar toda a gente virada para vivências superiores, nomeadamente chamando a atenção para o valor da família, para a importância da solidariedade com os mais desprotegidos, para o dom da Paz vivida em harmonia entre pessoas e povos. E para os cristãos, o Natal é ainda a humanização da divindade, o nascer do Cristo-Deus, desejado em séculos passados pelos judeus fervorosos e ansiado por todos os homens como o “ser especial” que venha ajudar-nos a resolver os tantos problemas com que nos debatemos. Dizia Miguel Torga no seu poema:
Presépio, trabalho da Irmãzinha Prazeres

«Nasce mais uma vez,
Menino Deus!
Não faltes, que me faltas
Neste inverno gelado…»

É um pouco este desejo interior que eu quero vincar: toda a gente, no redemoinho tormentoso de guerras, desavenças, miséria, anda a suspirar por um SALVADOR, perante a nossa impotência para seguirmos os caminhos da paz, da união, da amizade, e, noutra visão, os progressos económicos, científicos que nos levem a mais saúde, mais bem-estar, mais felicidade…
Ficou-me na memória o filme HUMANOS, de Yann Arthus-Bertrand, apresentado pela RTP1 há pouco tempo em três partes, em que pudemos sentir o palpitar profundo de 2000 entrevistados em todo o mundo na sua ânsia de mais paz, mais justiça, mais igualdade, mais amor. E, numa entrevista feita ao autor deste documentário, Yann, que não é cristão, dizia que, para resolver todos os problemas do mundo, bastava uma coisa: AMOR!

Aqui fica a palavra mágica. Aqui deixo o voto de que todos nós, a começar por mim, incarnemos mais a urgência do Amor. Sinto como muito motivador o nascimento de Jesus mais uma vez. Até porque Ele aparece numa roupagem de tanta humildade, como um ninguém, que nos deve mover a despirmo-nos da arrogância, da importância, da exuberância de que somos insubstituíveis e eternos… Como disse o Papa Francisco, de insubstituíveis e eternos está cheio o cemitério…

Menino-Deus, não faltes, que me faltas...


António Henriques

Para tanta aspereza, vem, Menino-Deus, suavizar o nosso caminhar!

domingo, 18 de dezembro de 2016

O SENTIDO DE PERTENÇA

Vivemos em cadeia

Há pouco tempo, dei comigo a pensar no lugar que cada um de nós ocupa nesta existência terrestre de que tanto gostamos, dizem uns, e de que outros se queixam tanto. Até se atribuem culpas a Deus pelas mais turbulentas situações, desde a miséria, a doença, o sofrimento das crianças, a morte, etc.
Sou daqueles que não sou capaz de dizer, perante uma morte, que “foi Deus que o levou”, porque eu não tenho de Deus a ideia de coveiro, de bombeiro, de facilitador do bem para uns e amaldiçoador de outros. A nossa natureza de mortais, sujeitos à condição de passagem contingente por aqui, carregados de falibilidades, e muitas delas dependentes de nós próprios (o nosso estilo de vida, as relações sociais, os hábitos alimentares…), para mim são justificações mais reais daquilo que nos acontece.
E como me situo eu perante as adversidades? Aqui, sigo um pouco a teoria de Piaget, que fala de assimilação e acomodação no processo de crescimento da pessoa, em vista do que ele chama a equilibração. Na prática, procuro assimilar o acontecimento com alguma distância, digerir o seu valor real na minha vida, compreender o seu significado. Depois, tento acomodar-me, sempre com sofrimento ou algum sacrifício, envolvendo-me com as circunstâncias para melhorar a minha compreensão e sentido de vida. 
Se o meu conhecimento cresce, as minhas acções e opções de vida também se vão alterando. Falo de ciência? Não, falo de mais do que de ciência. Falo dum sentir interior global que me dá a percepção do mundo vasto e grandioso que nos rodeia e vive em cada um e que a ciência não consegue explicar (o amor, a energia psicológica, a beleza, a religião).
Vida sempre em renovação...
Perante a morte, há muito que sei que sou um pó, uma areia do universo, ou melhor, um elo de uma cadeia sem fim, que vem de geração em geração, não só no sentido biológico, mas também na esfera do conhecimento, do saber e sentir espiritual, que me dá a noção de pertença a uma humanidade que evolui e se enriquece. Em vez de me isolar, sinto-me unido aos outros, imaginando-me integrado num movimento ascendente de uma humanidade a caminho da perfeição no amor, na justiça, na equilibração total. Ajudar alguém a crescer, a ver melhor a situação numa aula ou num encontro dá cá um sabor interior tão luminoso!...
Em cadeia e em sentido ascendente...
Até mesmo a minha fé só se explica nesta união ao grupo, à comunidade, à multidão dos que aderem a um Cristo-Deus na história, coexistindo com o mal, a ignorância, a doença, mas tentando melhorar as coisas… Posso não ser muito bom cristão, mas este sentido de pertença ao grupo dos crentes não se esvai, está cada vez mais vivo e alegra-me. Se calhar, para mim é mais fácil falar de Deus do que falar com Deus! Mas esta noção de que pertenço ao grupo já me ilumina os passos.

Teilhard du Chardin falava do sentido ascendente de todo o universo para a divinização (“Le milieu divin”), melhor dito, para a cristificação.  É por aí que eu também gosto de reflectir. 

sábado, 17 de dezembro de 2016

SUPERAR OBSTÁCULOS



"de tronco e raízes fortes, resistem..."
Hoje deu-me para pensar nas pessoas que encontro por aí, umas mais decididas e conscientes e outras mais confusas e desconfiadas das suas capacidades. Como as árvores: de tronco e raízes fortes, resistem a todos os vendavais, enquanto outras, de poucas raízes, esguias e a atirar para o alto, sucumbem aos primeiros embates.
Já disse aqui que nós não nascemos construídos, pelo que é nossa primeira missão crescer continuamente, ganhar raízes e consistência física, espiritual e moral para resistir aos ventos.
Gosto do exemplo da criança quando está a ganhar equilíbrio para se manter em pé e andar. Porque é que não desiste e passa apenas a gatinhar? “Está-lhe na massa do sangue», dizemos nós!
Esta é a base em que podemos assentar os nossos sonhos, os nossos projectos. Esforço atrás de esforço, acção atrás de acção e lá chegaremos… É preciso esta crença inicial para avançar. Às vezes, falta esta crença: “já tentei algumas vezes e não consegui”, dizemos! Felizes aqueles que encontram nos familiares, nos amigos, nos educadores pessoas a incutir confiança e fé nas nossas capacidades, a elogiar-nos quando demos um passo mais.
Como professor, sei como é importante este estímulo positivo para os alunos crescerem. E como pessoa, também aprendi que não posso estar sempre a desvalorizar-me, a falar das minhas incapacidades, pois é o mesmo que andar a esvaziar os pneus quando preciso antes de maior pressão anímica. Eu acho mesmo que aceitar com natural humildade um elogio é também um processo de crescimento.
Este assunto pode ser visto de muitos ângulos. Mas fico apenas com estas palavras:
 Quantos de nós desistem dos seus projectos quando sentem sorrisos irónicos e palavras negativas… E depois ficamos com a amargura na boca, sem termos mais para onde nos voltarmos! Grandes amigos estes, que apenas nos puxam para baixo e não estimulam o nosso desenvolvimento!
Em ambientes negativos, até os fortes caem...
Há que saber escolher as nossas amizades e os nossos conselheiros… Se vivo com aqueles que apenas destroem negativamente tudo o que se faz, como posso crescer? Até no Facebook aparecem aqueles que apenas criticam, dizem mal, só vêem o lixo na rua, sempre de óculos escuros para não verem a luz nem a beleza dos dias. Que sigam, que eu não vou por aí. Eu aprendi mais a registar o belo, a dar importância a uma boa acção, a alegrar-me com os feitos positivos, mesmo que sejam ainda insignificantes.
E, como nunca temos todos do nosso lado, é melhor lidar com aqueles que nos facilitam o crescimento. Dos outros, não reza a nossa história!

sexta-feira, 9 de dezembro de 2016

ARES DE NATAL


O presépio em casa


Como diz um amigo meu, “tempus fugit” e eu nem tenho tempo de perguntar ao tempo se tenho tempo para tudo. Assim, sai no dia 9 o conteúdo que devia aparecer no dia 8/12.

Foi a Rosário Bento Cristóvão, uma amiga do Facebook, que me fez lembrar este hábito de montar o presépio nas nossas casas no dia da Imaculada Conceição.

Diz ela no Facebook:

«Com a ajuda das netas Sofia e Luísa, ficou assim o presépio dos avós. Há a versão com e sem crocodilos no lago, com e sem Reis Magos (a Luísa chama-lhes Magros). Como sempre, o presépio foi montado no dia 8, o dia em que a minha mãe o montava. As figurinhas do presépio são, em grande número, as que a minha mãe colocava nos presépios da minha infância. Onde quer que estejas, mãe, podes ver que a tradição se mantém. Talvez possas saber também que hoje, uma vez mais, estás presente no meu pensamento. Obrigada, mãe, por tudo o que me deste. E, neste "tudo", incluo os teus presépios...»

E por aqui, na Amora, também se mantém este costume. A Antonieta, sempre atarefada, lá arranja tempo para estas empreitadas, que metem muita dedicação e gosto de artista. Nos últimos dias, as figuras saltaram todas dos armários e das arcas para durante três semanas serem objecto de muitas atenções, olhares e até de umas velinhas acesas de vez em quando.

Este ano, até tivemos de comprar uma cristaleira nova (ou armário? como se diz, Antonieta?), porque os modelos de presépio já só de cogulo cabiam na sala. Assim, entra-se em casa e, queiras ou não, dás logo com este mar de presépios aconchegados ao pé da porta… Alguns, vieram das mãos da mana, outros das mais variegadas origens.
Noutros locais, temos depois a árvore de Natal (custa fugir aos costumes locais…) e as três figuras do presépio que nos acompanham desde que casámos.

Agora, há que esperar pelos familiares para sentirmos unidos o calor da família e das bênçãos do Deus-Menino. E para que lá longe saibam o que aqui se passa, preparámos as fotos para enviar aos filhos que bem longe de casa vão cumprindo a sua missão de cidadãos. 

Neste dia 8/12, foi também muito bom visitar a Virgem em Fátima e lá encontrarmo-nos com amigos que há muito não víamos. Mas o que mais me chamou a atenção foi ver aquele recinto repleto, como se fora o dia 13 de ... 

Vá lá entrarmos no íntimo de cada um daqueles peregrinos. Que força, que vento, que energia nos move?


Ant. Henriques