sábado, 5 de agosto de 2017

MAIS LEITURAS

Mais um livro, mais uma análise...



O “Vaticanum”, romance de José Rodrigues dos Santos (JRS) publicado no ano passado, foi uma prenda de Natal. O título era sugestivo, mas eu desconfiava um pouco do aviso das primeiras páginas: «A informação histórica contida neste romance é verídica» e, por isso, não me atirei logo à leitura. Preferia começar por informação menos romanceada, até porque também tinha entrado na nossa casa outro livro - “VIA CRUCIS” – Francisco, um Papa em perigo no seio do Vaticano, de GianLuigi Nuzzi, que me poderia ajudar a compreender melhor a realidade dos problemas que o papa Francisco enfrenta para evangelizar a Cúria Romana e todos os serviços da Santa Sé. Por aqui comecei. Já escrevi a minha opinião sobre este livro, que me ajudou a compreender melhor o romance.


Em férias, avancei para as 600 páginas do Vaticanum, que em 10 ou 12 dias foram devoradas. Mas é um exagero gastar tantas folhas.... Podia o autor ficar pela metade e a história não perdia. Já li vários romances do mesmo autor e nele gosto da linguagem jornalística, sem exageros literários, com uma intriga cativante a agarrar o leitor.
Desta vez, cansou-me a abundância de informação relativa aos problemas financeiros da Santa Sé, a ponto de termos de aturar as falcatruas cometidas há muitos anos e tudo o que tem acontecido desde João Paulo I, que no romance é mesmo envenenado na véspera de anunciar decisões extremas. E também me cansaram os diálogos sem fim no momento em que a cena está a atingir o clímax, parecendo que o autor manda parar a vida para dar mais explicações...
Em JRS, a acção é sempre dividida em pequenas cenas, de enredo paralelístico, avançando ora uma ora outra, mas terminando sempre cada pequeno capítulo com um chamariz para a frente, o que leva o leitor a querer saber sempre mais... A intriga policial, que o autor manipula com sabedoria, deixa-nos “em suspense” muitas vezes.
O criptanalista português, Tomás de Noronha, personagem de muitos dos seus romances, desta vez, a pedido do papa, vai «catalogar as sepulturas que se encontram na necrópole e procurar vestígios dos restos mortais de Pedro» por debaixo da basílica e vê-se embrulhado noutra situação, que é desvendar o mistério do assalto aos documentos em análise pelos auditores, especialistas externos que o Papa convidou para endireitar as finanças. E deste primeiro assalto, já com a marca do Estado Islâmico, passa-se para a acção principal. O próprio papa vai ser alvo de acções rocambolescas, bem dramáticas e no limite do trágico, onde se conjugam forças diversas, umas a querer discrição, como a máfia, e outras a procurar publicidade, como os radicais islâmicos. Em jogo surge também o grupo que representa tendências homossexuais.
Tomás de Noronha e Maria Flor continuam a namorar. Ele aparece como personagem determinante para resolver todos os enigmas e ela é apenas uma figura feminina a adoçar a situação e a distrair-nos da tensão policial. Figuras femininas, só ela e a Dr.ª Catherine Rauch, responsável pela equipa de auditores, surgem no romance, por certo para dizer que no Vaticano elas não contam muito.
O conteúdo histórico é bastante aceitável, pois condiz com muitos dos estudos publicados. JRS diz que faz «um relato factual» e confirma mesmo que «a principal fonte foram os livros de referência de Gianluigi Nuzzi...» (p.599) e em muitas páginas eu ia pensando “mas eu já li isto!”. Ficcional é tudo o resto, a começar pelos atropelos graves e extremistas contra o papa.
Mas trata-se de um romance, de uma ficção. E numa obra ficcional a leitura é agradável quando a verosimilhança existe. No entanto, neste caso, algumas soluções do enredo pareceram-me inverosímeis, senão quase impossíveis de ter acontecido, como o túnel cavado por baixo da sanita. E a figura de Tomás de Noronha, que investiga e soluciona todos os crimes também surge mais como um super-homem.
Pronto. O texto já vai longo e não consigo cortá-lo. Ficamos por aqui. O JRS continua a ser o escritor mais lido, mesmo com as críticas. E, para me distrair, talvez avance para outro livro dele. Opiniões!

António Henriques

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