quarta-feira, 21 de março de 2018

Outra visão de José Régio

A visita a um museu, mesmo repetida, traz sempre alguma surpresa. Aconteceu-me também na última visita que fizemos à Casa-Museu José Régio em Portalegre.
Ainda agora me espanto com o pedaço de tronco espalmado, coberto por um simples cobertor, que servia de assento ao professor e autor José Régio durante as muitas horas diárias em que ele trabalhava a preparar as aulas e a produzir obra literária. Infelizmente não tenho foto. Era desta forma, sem um encosto sequer, que ele combatia o sono...
Além disso, também me chamou a atenção especial um grande quadro a cores pintado pelo artista. Pergunto à guia, que me diz que aquele quadro era uma transposição para pintura do crucifixo que estava em frente, feita pelo próprio artista, que cultivava um sentimento de união ao Cristo sofredor.  José Régio1.jpg
Esta faceta era-me desconhecida. Nas investigações que fiz posteriormente, descobri que os quatro irmãos Reis Pereira - José, Júlio, João Maria e Apolinário - se irmanavam também no gosto e cultivo do desenho e da pintura e os três primeiros ficaram igualmente conhecidos pela sua produção poética. É o próprio José Régio que fala desta comunhão fraternal pelas artes no seu livro "Confissão de um Homem Religioso".
O quadro a cores que vos apresento não será uma preciosidade artística, mas é já um exemplo de expressionismo modernista, com uma livre ondulação de linhas e onde as figuras permanecem numa obnubilação misteriosa, sobretudo aquela trágica cabeça de Cristo que o artista deixa apenas com alguns traços. Mais visível está o outro cristo, ao fundo do quadro.
Trago taJosé Régio 5.jpgmbém para aqui o crucifixo em que Régio se inspirou para produzir esta obra plástica, que no canto inferior direito se diz que é um estudo para tapeçaria, se é que eu leio bem. Será uma proposta para as Tapeçarias de Guy Fino, as célebres tapeçarias de Portalegre, com quem Régio privava com assiduidade? Eu ainda conheci o Dr. João Tavares, um dos artistas que mais cartões pintou para serem reproduzidos em tapetes e que era um dos poucos amigos de Régio, daquele círculo fechado que se reunia na mesa do canto no Café Alentejano.
Já agora, para rechear mais este post, ainda digo que este jeito para as artes plásticas levou o nosso artista a ilustrar ele próprio os seus livros. São desenhos que estão de acordo com este quadro e reflectem também o sentido trágico e misterioso da vida. As ilustrações que descobri são, penso eu, do seu livro "Poemas de Deus e do Diabo".

António Henriques








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