sábado, 12 de maio de 2018

Pedaços de vida...


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O António Escarameia, pároco de Vila Velha de Ródão, enviou-me uma prenda especial, fazendo-me lembrar pelas fotos os tempos que vivi naquela terra, onde concluí a segunda classe e metade da terceira.

Meu caro
Lá estaremos, dia 19, em Portalegre. Estes encontros dos antigos alunos fazem-nos bem, fazem-nos recuar e reviver o nosso passado, ao encontrar-nos com aqueles com quem crescemos e com quem consolidámos a nossa personalidade.
Lá estarei para abraçar, com amizade, os amigos, alguns que não vejo, há dezenas de anos.
Obrigado pelo teu e-mail. No sábado passado, fui dar um pequeno passeio, para desenferrujar as pernas. Aproveitei para registar algumas fotografias que são capazes de te dizerem alguma coisa. Aí vão.
Abraço para ti e família
António Escarameia

Pois, meu amigo, é verdade que estas fotos me dizem muito. Há duas ou três muito significativas. Primeiro, todas as que se referem à CERÂMICA DO AÇAFAL, onde meu pai trabalhava como carpinteiro, construindo as paletes onde se colocavam os tijolos e as telhas a secar uns dias até serem cozidas no alto forno.
O ar de abandono e degradação de todo o complexo fazem-me sofrer também, mas é um reflexo da nossa vida e da natureza, onde «nada se perde e tudo se transforma» (!!!). Aquela pequena casinha isolada não era a vivenda onde passei dias muito alegres e outros muito tristes, com a doença de minha mãe, mas era semelhante à nossa, ali ao lado do bonito solar onde vivia o dono, o Sr. Trigueiros de Aragão, filho dos condes de Idanha-a-Nova, de quem guardo gratas recordações, sobretudo pela consideração que nutria pelo meu pai. 


Curiosamente, quem agora mais gosta do local é uma cegonha, que não deixa o seu ninho, seu tesouro!
Ali, naqueles terrenos onde no tempo crescia uma vinha bem tratada, ganhei eu o meu primeiro dinheiro - 25 tostões por uma semana de trabalho a colher cachos de uva. Se calhar comia mais que guardava.


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Depois, outra foto, a da Escola Velha e degradada da Vila, bem me faz ouvir as recomendações do professor Benjamim, um bom homem que chegava de burro ao seu local de trabalho, e que viu em mim capacidades para estudar, insistindo com o meu pai para eu não deixar a escola e continuar para o ensino liceal. Bonito sermão, mas que corria o risco de não se concretizar pela situação económica da família. 
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Valeu aparecer o Seminário, esse colégio dos pobres que tantos meninos educou, alterando por completo o que seria o seu previsível futuro. O meu era decerto continuar a arte de meu pai, o mestre Aníbal.
É por isso que eu sou um dos alunos agradecidos que irei em romaria até Portalegre para lembrar esses "outros tempos" da construção da nossa personalidade, como diz o Escarameia.
Pronto, já fui ao passado. Obrigado, amigo, pelas fotos e por toda a amizade que o teu gesto significa.
António Henriques 

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